Nada como ver a tese de doutorado publicada pela editora da
Universidade de Harvard, uma das mais tradicionais do mundo, não? Para o
norte-americano Nick Sousanis, o feito teve um gostinho ainda mais
especial: todo o trabalho foi feito em formato de história em
quadrinhos.
Intitulado "Unflattening", Sousanis, que agora tem
pós-doutorado em HQs pela Universidade de Calgary, no Canadá, defendeu
em sua tese a importância do pensamento visual no processo do ensino e
da aprendizagem. "As imagens podem falar coisas fora do alcance da
linguagem [escrita] e os quadrinhos têm o potencial de ampliar as
possibilidades de comunicação. As imagens são, enquanto as palavras
são", explicou.
O pós-doutor não quis revelar a nota que tirou
na tese, mas contou que foi o trabalho mais longo que já fez. "Eu
passei! Eu tenho o meu doutorado [agora]", pensou ao ser aprovado. "Fui
com minha esposa e filha de três semanas de idade para um passeio no
Central Park logo em seguida! Foi um bom dia!", brincou.
Sousanis decidiu fugir dos padrões acadêmicos antes mesmo de ser
aprovado no doutorado em educação pela Universidade de Columbia. Em
2008, ele aproveitou alguns quadrinhos educacionais que havia feito e
entregou para a instituição de ensino como parte dos materiais de
aplicação à pós-graduação. "Quando me candidatei, expressei minha
intenção de fazer o trabalho [de doutorado] em forma de quadrinhos. E
acho que eu acertei o momento ao fazer isso. Houve mais recepção aos
quadrinhos do que nunca", relembrou.
Em 2011, iniciou o projeto
"Unflattening" e tanto os acadêmicos da instituição quanto os produtores
de quadrinhos abraçaram a ideia, segundo o ex-aluno. O doutorado foi
concluído em 2014 e o livro publicado no começo deste ano. "Precisamos
incentivar esse tipo de alfabetização visual e eu acho que os quadrinhos
se prestam bem para fazer isso acontecer."
"Unflattening"
O nome "Unflattening" (algo como "não nivelado", em tradução livre)
surgiu da vontade do autor de representar ideias e histórias em planos
além da linguagem escrita. O objetivo foi valorizar o uso da imagem como
forma de comunicação e estimular o leitor a refletir sobre diferentes
pontos de vistas.
"Unflattening é o que o leitor decide o que é.
Eu uso metáforas visuais e verbais para tornar os conceitos mais
acessíveis, mas nunca os simplificando. O texto por si só pode ser um
fator limitante e imagens são como parte integrante do significado como
texto", detalhou.
"Estou emocionado em ver como as pessoas se
envolveram profundamente com ele ["Unflattening"] e como ele já está
sendo usado em uma variedade de salas de aula."
Paixão desde cedo
Os quadrinhos o fascinam desde quando ele era bebê. Tanto que Batman
acabou sendo a primeira palavra que Sousanis falou – seu irmão mais
velho lia as histórias em quadrinhos do personagem na época. Já os
primeiros traços foram feitos por brincadeira quando criança.
Apesar da paixão, o jovem trilhou outros caminhos em sua vida acadêmica.
Sousanis é matemático por formação. Porém, voltou aos quadrinhos quando
começou a trabalhar com artes depois de formado. "Voltei aos quadrinhos
em pleno vigor mais tarde. Primeiro, ao fazer alguns quadrinhos
políticos e, em seguida, alguns quadrinhos educativos sobre arte e
jogos", relembrou.
"Eu gostaria de pensar que o desenho um dia
será considerado parte de uma alfabetização vital que não apenas para os
sete anos, mas que continue a nos nutrir por toda a vida", acrescentou.
Na sala de aula
Sousanis acredita muito no potencial dos quadrinhos na sala de aula.
Para ele as HQs oferecem um meio distinto e importante para a
organização dos pensamentos. Além disso, ele defende que os quadrinhos
são importantes ferramentas de comunicação sobre qualquer assunto e em
qualquer campo.
"Os méritos da alfabetização com os quadrinhos
para leitores com dificuldades têm sido bem documentados. Talvez em
algum momento eles não serão apenas formas 'alternativas' [para usar na
sala de aula]", afirmou.
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